Opinião

José de Sá: Como o digital melhora os sistemas de gerenciamento no setor de petróleo e gás

Aplicativos móveis e análise de dados estão transformando ferramentas em tempo real para melhorar práticas e garantir o compliance

Por José de Sá

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Nas duas últimas décadas, os sistemas de gestão de empresas de óleo e gás provaram ser a abordagem mais promissora para alcançar a excelência operacional e incluir uma cultura de melhoria contínua nas empresas. Tais sistemas estabelecem padrões globais para operações, definem protocolos e terminologias comuns. São conceitos compartilhados que unificam a organização e permitem que todos se comuniquem claramente sobre tarefas e objetivos.

Ao padronizar as expectativas para os funcionários operacionais, comerciais e administrativos, é possível medir e comparar o desempenho. Sistemas eficazes de gerenciamento também garantem o compliance e responsabilização, desde o topo da organização até a linha de frente.

No entanto, também existe uma lacuna entre as aspirações da maioria das empresas e a realidade. Simplesmente implementar um sistema de gestão não diferencia uma organização, pois os executivos seniores precisam entender como ela vai melhorar o desempenho dos negócios. A performance inovadora depende de quão bem a organização incorpore o sistema em suas operações, desde a equipe executiva até a linha de frente e o back office, e como os funcionários agem sobre ele, dia após dia.

E é aqui que as tecnologias digitais estão começando a ter um impacto significativo nos sistemas de gerenciamento. Ferramentas digitais simples, como um aplicativo para dispositivos móveis que rastreie e ajude a garantir a compliance, estão se mostrando promissoras, ao permitir que os sistemas de gerenciamento se mantenham vitais e dinâmicos.

Naturalmente, esses aplicativos são apenas uma parte de um ecossistema maior de dados que informam as operações mais amplas das instalações. A integração de novas tecnologias digitais nas operações diárias, a criação de insights significativos e a utilização dessas informações para melhorar continuamente as operações exigem uma transformação expressiva.

 

Tecnologia digital em um contexto operacional

Antes de embarcar em uma transformação digital do sistema de gestão, os executivos devem ter uma visão clara de como usarão a tecnologia para se diferenciar e obter vantagem competitiva. Dois casos de uso de digital em óleo e gás podem ajudar a pensar: aplicativos móveis e dados agregados que fornecem insights.

Aplicativos móveis. São a linha de frente da digitalização, a interface por meio da qual muitos funcionários interagem diretamente com os sistemas de gerenciamento. Os aplicativos tornam o conteúdo do sistema de gerenciamento mais acessível, colocando material personalizado ao alcance de todos os funcionários, com o uso de um telefone ou tablet.

Mas os aplicativos fazem muito mais: mudam a maneira como os funcionários interagem com o sistema de gerenciamento. Eles agora podem capturar dados, ajudar a garantir o compliance e acelerar a difusão de práticas recomendadas em toda a organização.

Insights de dados agregados. Análises de dados não são nada novas no setor de óleo e gás. Reservatórios e refinarias usam grandes quantidades de dados e de modelagens dinâmicas desde os anos 80. A atual onda de digitalização envolve inovações tecnológicas e de processos que aumentam os rendimentos e melhoram o desempenho operacional. Informações de sistemas, sensores e aplicativos móveis podem ser agregados e analisados para fornecer insights que melhoram as operações, às vezes quase em tempo real.

Não se trata de uma transformação digital, mas de uma transformação de negócios. Em todas as indústrias, os modelos de negócios tradicionais estão sofrendo cada vez mais disrupção, criando oportunidades para operadores ágeis e novos concorrentes.

Para as empresas de petróleo e gás, o desafio é melhorar as operações com novas tecnologias digitais, mantendo o foco no core business. Em uma indústria com uma longa história, funcionários acabam trabalhando de maneira semelhante por décadas, e as empresas podem, às vezes, perder de vista a necessidade de reinventar processos.

Executivos seniores devem formar planos sistemáticos para adaptar maneiras de trabalhar, adquirir novas capacidades, aprimorar habilidades e mudar a cultura da empresa. O sucesso também dependerá da contribuição de talentos de fora da organização, incluindo parcerias com empresas especializadas.

Finalmente, é importante lembrar que em todas as empresas existem sonhadores e executores. Os executores se concentram em iniciativas que renderão valor nos próximos dois anos, enquanto os sonhadores imaginam como a indústria poderá parecer daqui a uma década. Os sonhadores ficam intrigados com o reino do possível, e menos preocupados em se ligar diretamente ao valor imediato.

Ambas as perspectivas são importantes e precisam ser equilibradas. Embora seja impossível prever o futuro com total certeza, a maioria das empresas pode enxergar a direção geral que seu setor está seguindo. Ajustar as perspectivas de executores e sonhadores é fundamental para que as empresas capturem oportunidades de curto prazo, ao mesmo tempo em que investem no futuro.

 

* José de Sá é Diretor no escritório da Bain & Company no Rio de Janeiro e possui mais de 20 anos de experiência em consultoria de gestão.

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