Opinião

JASON CARNEIRO: Elogio da Fronteira

País, estados e empresas precisam se preparar e criar oportunidades para si e colaborar na conquista de diferentes fronteiras

Por Jason

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

“It is the unknown that excites the ardor of scholars, who, in the known alone, would shrivel up with boredom.”

― Wallace Stevens

É um pensamento quase irresistível, dada a imensidão ainda inexplorada da área sedimentar do Brasil e a quantidade relativamente baixa de poços perfurados, imaginar que outros plays, gigantes ou não, podem estar aguardando pela sua descoberta. E não só, vale dizer, nas duas dimensões dos mapas: a terceira dimensão, a profundidade, pode também guardar riquezas, de modo que mesmo uma bacia madura pode oferecer oportunidades. O Pré-Sal é um exemplo eloquente de como isso pode acontecer¹.

As fronteiras exploratórias permanecem fronteiras ou por causa do acesso, como nos casos do Alaska ou da nossa Margem Equatorial, ou porque são também fronteiras tecnológicas: é preciso dar o passo, às vezes o salto que tornará eficiente a exploração, ou possível a produção, vencendo barreiras físicas ou econômicas. São fronteiras do conhecimento. É preciso descobrir se é possível, ou ainda melhor, como é possível conduzir a atividade petroleira de forma sustentável dos pontos de vista econômico e ambiental nessas áreas.

As fronteiras do conhecimento podem ser estendidas, reclamando terreno ao desconhecido. Tão ou mais interessantes e férteis são as fronteiras entre os conhecimentos, nas quais um se vale do outro para avançar. É a região da multidisciplinaridade, da criatividade e da colaboração, é um lugar de aprendizado e crescimento, e poucas indústrias o conseguem gerar como a indústria do petróleo. Basta pensar em quantas áreas do saber e do fazer precisam trabalhar juntas para que os plays sejam compreendidos, os prospectos sejam perfurados, os campos sejam desenvolvidos, a produção seja escoada, o meio-ambiente seja protegido, as empresas funcionem, a sociedade se beneficie.

A fronteira é o mundo da incerteza e do risco, do empreendedorismo, do pioneirismo. Mesmo conquistada, pode exigir esforços dobrados e novos breakthroughs, como o shale americano exigiu das empresas, na primeira vez perguntando como produzir, na segunda vez perguntando como fazê-lo a custos mais baixos. A fronteira é o lugar da ideia brilhante, às vezes solitária; é também o lugar da construção em equipe. Competição e colaboração. É difícil pensar em ambiente mais rico para o desenvolvimento de pessoas. A fronteira ilumina os talentos, cria mestres e alunos que não cabem no modelo intergeracional: são de idades parecidas, em profissões diferentes.

Da molécula de gás às arquiteturas contratuais, da micropaleontologia às mesas de negociação, do chão de fábrica à geopolítica mundial, a indústria do petróleo é a indústria das fronteiras. Competências pessoais e organizacionais respondem aos desafios: a Petrobras ficou famosa pelo sucesso em águas profundas; a Maersk Oil, recém-adquirida pela Total, pelos avanços em reservatórios complicados; a irlandesa Tullow, pela série de descobertas na África². Claro que a queda dos preços do petróleo iniciada em 2014, afetando duramente os balanços de todas as empresas, obrigou-as a focar energia na fronteira dos custos – os portfolios foram deixando apostas mais ousadas, a criatividade foi alocada primordialmente à eficiência.

A estratégia é um jogo de preparação e de oportunidade. Estados e empresas podem, igualmente, preparar-se e criar oportunidades para si. Podem, sim, colaborar na conquista das diferentes fronteiras. Ao tempo em que o governo brasileiro alinha claros sinais de que deseja recompor a atratividade do país, e cria portas como o leilão permanente e o calendário de leilões, para além do desinvestimento da Petrobras, pode ser a hora de escolher em que fronteiras tomar posição, sem esquecer a eficiência aprendida.

____________________________________________

¹Vejam também: CUIÑAS FILHO, Elio Perez; BACOCCOLI, Giuseppe. Aplicação do Indicador de Intensidade Exploratória como Ferramenta de Focalização. In: Rio Oil and Gas 2004 Expo and Conference.

²Mais informações em https://www.tullowoil.com/about-us/our-story

 

Outros Artigos