Opinião

Escassez de diesel preocupa e traz tendência altista

A escassez de diesel no mundo está se tornando cada vez mais evidente. Os estoques já baixos eram uma preocupação, e a proibição das exportações russas colocou mais pressão no já apertado mercado de diesel

Por Victor Arduin

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A resiliência da economia americana, apesar das altas taxas de juros, fortalece as expectativas de um mercado altista para os destilados médios. O diesel, em particular, está intimamente ligado ao ciclo econômico dos países.

Além do efeito de alta no produto, seus impactos deverão ser percebidos na inflação, já que uma parte significativa do transporte de produtos depende desse combustível. O último Índice de Preços ao Consumidor (IPC) dos EUA mostrou como o componente de energia voltou a pressionar a inflação.

Cenário traz preocupações para o mercado de destilados médios

Os diferenciais de destilados médios continuam a aumentar globalmente devido à valorização do petróleo. No entanto, diversos eventos estão intensificando ainda mais a tendência altista dessa commodity. Os estoques globais permanecem consideravelmente abaixo dos níveis razoáveis para esta época do ano, e a limitação no fornecimento de petróleo pesado do Oriente Médio – capaz de produzir proporcionalmente mais refinados como diesel e óleo de aquecimento (heating oil) – está aumentando a escassez no mercado.

Os estoques americanos também indicam um cenário restritivo com o suprimento de destilados médios atingindo um pouco mais de 31 dias de abastecimento. Se a economia americana continuar a demonstrar resiliência diante das altas taxas de juros, levando em consideração a forte correlação dos destilados com a expansão da atividade econômica de um país, é provável que isso resulte em preços significativamente mais elevados. Além disso, a temporária proibição da exportação de diesel pela Rússia complica ainda mais o abastecimento global.

 

A Rússia desempenha um papel crucial na exportação marítima de diesel para o mundo, com destinos-chave incluindo Turquia, Brasil e Arábia Saudita. No entanto, devido a problemas de abastecimento em seu território, o governo está tomando medidas drásticas, como a proibição das exportações por tempo indeterminado.

Apesar de ser uma medida temporária, ela intensifica a escassez global, o que terá um impacto no preço do diesel. Alguns reflexos práticos que podemos esperar no horizonte incluem um aumento nas exportações americanas, que devem recuperar parte dos mercados perdidos para o diesel russo mais barato. Isso, é claro, enquanto durarem as restrições das exportações na Rússia.

Fortalecimento do backwardation no mercado de destilados

Outro evento que deverá trazer volatilidade no mercado de refino é um vazamento de gás que forçou uma paralisação parcial na maior refinaria da Europa em Roterdã. Isso está dificultando a produção de combustíveis refinados, especialmente diesel e querosene de aviação.

A crescente pressão sobre as margens de refino para destilados foi mascarada durante o primeiro semestre do ano devido aos preços mais baixos do petróleo, um componente-chave no custo do produto-final. No entanto, a partir de julho, com as medidas da OPEP+, os preços do petróleo bruto começaram a subir novamente, resultando em um aumento geral nos preços dos combustíveis. Com os estoques abaixo do normal devido à escassez no mercado global, é provável que os preços do diesel sustentem o aumento nas margens de refino ao longo do restante de 2023.

Portanto, a estrutura de backwardation, indicando preços mais altos no presente do que no futuro, deve se intensificar nos próximos meses devido a todas essas "restrições de curto prazo". Mesmo uma demanda mais fraca do que o esperado possa se concretizar no futuro, os fundamentos permanecem altistas para destilados médios, como diesel e óleo de aquecimento.

Victor Arduin é analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets

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