Opinião

Estrutura de preços do petróleo muda radicalmente; entenda as razões

O mercado está rapidamente passando de uma estrutura de backwardation para contango, o que exerce pressão adicional sobre a próxima reunião da Opep para tomar medidas de apoio aos preços

Por Victor Arduin

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O contexto macroeconômico tem sido um dos principais fatores baixistas para as commodities energéticas em 2023. As altas taxas de juros nas principais economias do mundo, que impactam o consumo e o investimento, e a apreciação do dólar são fatores que tendem a impactar a demanda por energia com origem de combustíveis fósseis.

De fato, o primeiro semestre de 2023 foi bastante baixista para o petróleo, com o preço do barril acumulando perdas até a metade do ano. Essa tendência só foi revertida após anúncios de medidas pela Opep+, lideradas por Arábia Saudita e Rússia, que anunciaram restrições de suprimento para o mundo.

Ainda, no decorrer do segundo semestre de 2023, o conflito entre Hamas e Israel lançou um novo componente de volatilidade que trouxe preocupações ao mercado. Apesar de os dois países não serem grandes produtores de petróleo, o temor de que a escalada da guerra pudesse de alguma maneira envolver o Irã, trouxe riscos para o abastecimento mundial.

No entanto, o cenário tem mudado rapidamente. Desde as máximas registradas no mês de setembro, os principais benchmarks já recuaram substancialmente, mesmo com sinais mais “dovishes” vindos da política monetária americana, que em tese deveria dar mais espaço para commodities energéticas apreciarem. Neste sentido, ações da Opep+ para defender os preços do petróleo serão importantes. O grupo reúne-se no dia 26 de novembro, com a expectativa de que sejam anunciadas mais medidas para estabilizar os preços.

Reversão do sentimento baixista do mercado dependerá das medidas anunciadas pela Opep+

Os preços do petróleo seguem pressionados por uma combinação de fatores, incluindo dados econômicos fracos da China, riscos de recessão na Europa e demanda menor do que o esperado nos EUA. As projeções da American Petroleum Institute (API), que preveem um aumento de aproximadamente 12 milhões de barris nos estoques americanos, reforçam a um sentimento baixista para os principais benchmarks do petróleo.

Em meio a um cenário mais adverso para produtores de petróleo, a atenção do mercado agora está focada nos países da Opep+.

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A aliança de países exportadores de petróleo reduziu agressivamente suas quotas de produção desde julho para dar suporte aos preços. No entanto, mesmo com a escalada da guerra entre Hamas e Israel, um fator de volatilidade adicional que tende a valorizar os preços, o mercado caiu nas últimas semanas devido a indicadores econômicos fracos, especialmente na China, e a uma oferta robusta de petróleo de países não pertencentes à Opep+.

Com mais petróleo vindo ao mercado, os preços estão encontrando pouco espaço para sustentar-se nos atuais patamares. O Iraque está produzindo mais petróleo do que há cinco anos, e a Venezuela recebeu um alívio das sanções ocidentais, o que deve permitir que ela aumente sua produção no longo prazo.

Em um cenário de crescimento econômico, o aumento da produção poderia não ser suficiente para atender à demanda. No entanto, com economias enfrentando dificuldades, o mercado pode estar em déficit bastante menor do que o imaginado meses atrás.

Em resumo, o complexo energético está em uma situação bastante diferente do que poderia ser esperado no mês passado, principalmente após o conflito entre Hamas e Israel.

Dados econômicos fracos da China lançam dúvidas sobre o futuro das importações do país, enquanto a Europa pode entrar em recessão no próximo trimestre. Ainda, caso se confirmem as projeções da American Petroleum Institute, os EUA deverão registrar o maior aumento dos estoques de petróleo bruto desde fevereiro.

A rápida transição da estrutura de preços dos contratos futuros dos principais benchmarks para uma estrutura de contango indica que o mercado está cada vez com uma visão mais baixista para o petróleo, apesar dos riscos presentes na atual conjuntura. Sem medidas adicionais por parte da Opep+, dificilmente os preços se manterão no atual patamar.

Contudo, a Opep+ também enfrenta o desafio de conciliar os interesses de diversos países, que nem sempre são convergentes. Um exemplo disso é o Iraque, que tem aumentado sua produção de petróleo além da cota acordada. Isso reduz o déficit de suprimento no mundo, o que, em tese, reduz eficiência da estratégia do grupo.

Victor Arduin é analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets

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