Opinião

EUGENIO SINGER: Confiabilidade no abandono

Metodologia NEBA está sendo utilizada no descomissionamento de plataformas de petróleo

Por Eugenio Singer

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Todo bom planejamento industrial deve levar em conta o fim da vida de suas instalações. Este desafio é tão maior quanto a complexidade do negócio. No setor de óleo & gás, as empresas que possuem plataformas de petróleo offshore têm à sua frente a tarefa de desativar essas instalações no médio prazo. Para isso, terão de fazer os preparativos adequados para a execução do projeto de descomissionamento, o que requer atenção especial em relação ao meio ambiente e à segurança desse processo.

No Brasil, a perspectiva da Petrobras é de que até 2020 sejam desativadas de 15 a 20 de suas plataformas, incluindo seus sistemas submarinos correspondentes, sendo que, ao todo, 79 plataformas já se encontram em estágios iniciais de descomissionamento.

Entre as metodologias de ponta em aplicações nessa área, é possível destacar a Análise dos Benefícios Ambientais Líquidos (NEBA - Net Environmental Benefits Analysis), que está sendo utilizada de maneira pioneira no descomissionamento de plataformas de petróleo e de maneira bastante eficiente, tendo sido reconhecida como a melhor na área e premiada em 2017 pela Ends Europe e em 2016 pela Environment Analyst Business Excellence Awards.

A abordagem NEBA equilibra riscos, benefícios e compensações ambientais, associados a diferentes alternativas de descomissionamento, bem como as considerações econômicas e sociais. A metodologia destina-se a fornecer um meio para a comparação econômica dos benefícios e passivos de diferentes estratégias de descomissionamento, tanto offshore, como de equipamentos e materiais a serem devolvidos para a terra firme.

Além disso, a abordagem pode auxiliar as autoridades reguladoras e a empresa proprietária da instalação a gerenciarem melhor custos e riscos de uma instalação offshore, criando valor ambiental, social e econômico, além de proporcionar um benefício efetivo e demonstrável ao público durante o trabalho de desativação.

A metodologia NEBA age como uma forma de medir a perda de serviços ecossistêmicos não contabilizados em processos convencionais de avaliação comparativa. Isso auxilia a identificar o equilíbrio apropriado entre riscos e benefícios plausíveis e as compensações ambientais, sociais e econômicas associadas entre as alternativas concorrentes. Em termos mais simples, a NEBA pode ser usada para determinar, para cada alternativa considerada, se os impactos prejudiciais de uma ação superam os benefícios finais.

Nas aplicações offshore de descomissionamento, a técnica reduz os custos totais, aumenta os benefícios socioambientais, otimiza o projeto, além de facilitar a análise ao fazer a correlação entre métricas monetárias e não monetárias, servindo também como base para avaliação comparativa de opções de engenharia.

A tecnologia NEBA é fundamental para definir qual é a melhor estratégia de descomissionamento, pois a desmontagem pode não ser a melhor solução. O processo de desativação de uma plataforma envolve a avaliação de fatores como o impacto ambiental, emissões atmosféricas, riscos de saúde e segurança, impactos sociais e recursos marinhos, gestão de resíduos, viabilidade técnica e financeira, entre outros aspectos.

Os benefícios têm sido contabilizados na gestão de riscos ecotoxicológicos e na valoração e restauração ecológicas aplicadas à indústria de petróleo & gás e sua aplicação permite identificar os recursos que estão em risco em acidentes de derramamento de petróleo, por exemplo, contribuindo para evitar ou minimizar as consequências ambientais de uma falha ou desastre e construir a confiança de que a melhor das ações está sendo adotada.

Seis passos são essenciais durante a aplicação da metodologia NEBA: definição da estrutura conceitual para as metas, opções, restrições e requisitos do projeto; identificação das necessidades de dados para atributos que contribuem para a tomada de decisões; coleta de dados e preenchimento de lacunas de informações; realização de análises de consequências ambientais e econômicas; identificação de compensações de benefícios e custos para diferentes opções e atributos de decisão; e, ao final, fornecimento transparente e confiável de resultados.

Atualmente, a metodologia está sendo utilizada em um grande número de projetos complexos em todo o mundo para avaliação de riscos de descomissionamento offshore e pode ser aproveitada nas operações brasileiras de maneira totalmente eficaz.

Seja qual for a metodologia aplicada no descomissionamento de plataformas, é fundamental que a questão ambiental e a segurança do processo sejam asseguradas.

* Eugenio Singer é Diretor Geral da Ramboll no Brasil, engenheiro civil pela Unicamp, mestre em engenharia nuclear pelo IPEN-USP e doutor em engenharia ambiental e recursos hídricos pela Universidade de Vanderbilt.

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