
Faz apenas 35 dias que Jean Paul Prates assumiu a presidência interina da Petrobras, mas já é possível dizer que os interesses da companhia estão novamente subordinados à Brasília. Não apenas ao governo federal, mas principalmente ao Centrão. Embora a correlação de forças em disputa ainda não esteja consolidada, a primeira queda de braço foi ganha pelo grupo do fisiologismo político, que emplacou a indicação de seus aliados para compor o Conselho de Administração da empresa.
Para presidir o CA, foi indicado o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes. Apesar de a Petrobras ser uma empresa de economia mista, cujo controlador é a União, trata-se de um conflito em potencial, visto que o MME é responsável por formular a política energética. Nesse caso, a sinalização é de que a petroleira será usada como um instrumento de execução de políticas públicas. É o que demonstra o ofício enviado pelo MME à Petrobras no dia 28, no qual solicita a suspensão da venda de ativos por 90 dias.
“O fato de o Pietro não ter um perfil corporativo e empresarial é um indício da aproximação entre Petrobras e Brasília, ainda que as credenciais técnicas dele sejam razoavelmente reconhecidas por ser um funcionário de carreira da ANP. Mas uma coisa é a experiência técnica, outra é a experiência corporativa”, avalia Leandro Lima, analista sênior de Risco Global para o Brasil e Cone Sul da Control Risks.
Segundo o cientista político, o ministro Alexandre Silveira e o secretário Pietro Mendes marcham sob a bandeira do Centrão. “O setor de energia é uma das arenas de disputa entre o PSD / Centrão de um lado e o PT de outro, o que tem gerado desconforto, como vimos nas indicações do governo para o CA da Petrobras. Fato é que a indicação [de Pietro] não agrada nem ao PT tampouco ao mercado, mas apenas ao Centrão”, diz ele.
No mesmo dia 28, o MME enviou outro ofício à Petrobras. No documento, a indicação do nome de Wagner Victer, identificado com o espectro político da esquerda, cai antes mesmo de ser apreciada para o CA da empresa, dando lugar para a indicação de Bruno Moretti, servidor de carreira do Ministério do Planejamento.
De acordo com uma fonte do alto escalão da indústria de petróleo e gás, ainda não se sabe se Jean Paul Prates e Alexandre Silveira operam em parceria ou se já há uma disputa nos bastidores. “Parece estar ocorrendo uma acomodação de forças. O Centrão não gostou da lista original dos indicados. O próprio MME derrubou a indicação anterior do Victer, o que gera até um grande constrangimento. Ele era um ”companheiro’ do PT”, disse.
A política dando as cartas
Ainda no exercício do cargo de senador, quando apenas estava cotado para assumir a Petrobras, Prates afirmou que a política de preços dos combustíveis não dizia respeito à Petrobras, mas que era “assunto de governo”. Ao jogar a bola para o alto, quis tirar o peso das mãos da companhia, apontando os rumos que sua gestão seguiria.
Já como presidente da Petrobras, o executivo visitou o Rio Grande do Norte, estado governado por Fátima Bezerra (PT-RN), de quem era suplente no Senado, e anunciou que a companhia preservaria suas atividades de E&P, refino e comercialização na região.
Na ocasião, a sua fala pegou de surpresa o mercado. Afinal, a 3R Petroleum aguarda o closing da aquisição do Polo Potiguar, complexo que possui 22 campos, sendo 19 onshore e três de águas rasas, além de infraestrutura de processamento, refino, logística, armazenamento, transporte e escoamento de petróleo e gás natural.
O Polo inclui o tradicional campo de Canto do Amaro e a Refinaria Clara Camarão, com capacidade instalada para processar até 39,6 mil barris/dia, além de três UPGNs (uma em operação com capacidade para processar 1,8 milhão de m³/dia de gás e duas hibernadas).
Com a solicitação do MME para suspender a venda de ativos, a conclusão da operação de venda, realizada por US$ 1,38 bilhão, se mantém em compasso de espera. A 3R, por sua vez, que previa o fechamento do negócio no primeiro trimestre de 2023, celebrou termo de compromisso para estruturação e emissão de debêntures, com garantia firme de colocação, no valor de US$ 500 milhões junto ao Banco BTG Pactual para concluir a operação.