Opinião

O Covid-19 e o petróleo brasileiro

Esperamos que o governo adote medidas de apoio às empresas nacionais para que consigam atravessar cenário tão desfavorável

Por Marco Gonçalves

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Os recentes acontecimentos relacionados à pandemia do novo coronavírus (Covid-19) têm impactado diretamente na grande oscilação do valor do barril de petróleo e, como consequência, na economia mundial.

Um dos fatores que alimentaram a crise econômica foi a superprodução de petróleo pela Opep. A Arábia Saudita e a Rússia, especialmente, estão injetando volumes exacerbados de petróleo no mercado e, com isso, barateando o preço da commodity. Em abril, os árabes devem comercializar o barril para a China por apenas US$ 6; para os EUA, por US$ 7, e para a Europa, por US$ 8.

A média do custo de produção no pré-sal passou US$ 13/barril em 2015 para US$ 6/barril no final de 2019, ante US$ 2,8/barril da Saudi Aramco, que conta ainda com uma capacidade de produção de 10 milhões de barris de óleo por dia (bopd), podendo subir para 20 milhões de bopd. Atualmente, o pré-sal brasileiro produz, em média, 2 milhões bopd, dez vezes a menos que a Saudi Aramco.

Esse é um cenário que impacta diretamente na diminuição do preço do petróleo globalmente. A produção brasileira, até o momento, tem conseguido lidar bem com a instabilidade, considerando-se o custo de produção versus o valor do barril de petróleo. No entanto, a tendência é que o cenário piore bastante antes de apresentar melhora.

Variação dos preços e impactos econômicos

O custo do barril de petróleo envolve três variáveis básicas: suprimento, demanda e geopolítica. A pandemia do Covid-19 tem impactado diretamente na oscilação do preço, pois há uma crise no transporte, as fronteiras estão sendo fechadas e as empresas, orientando seus colaboradores a trabalharem remotamente, além do fato de trabalhadores que contraíram o vírus estarem afastados.

Para a economia brasileira, em curto prazo, o cenário não é animador. O valor em bolsa da Petrobras caiu cerca de 60%, desvalorizando as ações da estatal. Como consequência, os investidores ficam receosos e acabam se desfazendo de suas cotas, deixando a economia mais frágil.

É imperativo que o país se prepare para um período difícil. Nos próximos meses, assim como aconteceu na China, a situação deve piorar, para então, estabilizar-se. A tendência é que o número de  pessoas infectadas aumente drasticamente até que sejam encontradas alternativas de combate à doença.

É inevitável que a economia sinta e reflita negativamente este momento, tanto em termos de PIB quanto no crescimento das empresas. Como existem muitos projetos em andamento, é fundamental para a Petrobras, por exemplo, que o pré-sal continue sendo explorado, a fim de que a produção não seja afetada. Independente das altas e baixas da economia, o petróleo é necessário.

Alerta sobre Break-even 

Estamos certos de que se trata de uma fase ruim, e as empresas terão de seguir firmes para conseguir sobreviver. Se a Petrobras sofre, a economia brasileira também sofre. Entretanto, a tendência é que, com a alta do dólar, possa-se obter maior lucro com a exportação de petróleo.

A expectativa é que o preço do barril se mantenha na média de US$ 25 nos primeiros meses, subindo para patamares entre US$ 40 e US$ 50 em médio/longo prazo – o que seria positivo, já que com, com isso, o país conseguirá manter os negócios. Porém, um alerta: caso o preço do barril caia para menos de US$ 16 (break-even estimado segundo informações atualizadas com os índices divulgados em 2020), não compensará, para o Brasil, exportar esse petróleo, o que prejudicaria a economia brasileira.

Esperamos que o governo adote medidas de apoio às empresas nacionais para que consigam atravessar esse cenário tão desfavorável e sair com um mínimo de saúde financeira.

Marco Gonçalves é Gerente de Contas Estratégicas de Óleo & Gás, Petroquímicas e Químicas da Fluke do Brasil, especializada em ferramentas de teste eletrônico compactas e profissionais

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