
Ainda em 2022, antes de assumir a Petrobras, Jean Paul Prates afirmou que a política de preços dos combustíveis era “assunto de governo, e não apenas de uma empresa de mercado”. Depois, em fevereiro de 2023, já empossado, decidiu jogar a “bola” da venda de ativos para o alto. Foi quando o MME solicitou à Petrobras uma reavaliação dos desinvestimentos que ainda aguardavam desfecho.
À época, o presidente da Petrobras disse que a suspensão temporária da venda de ativos, por 90 dias, era uma oportunidade para que a empresa pudesse “rever alguns conceitos” – prova cabal de que a determinação ministerial estava em linha com os anseios do executivo. Mas a ideia de “gestão compartilhada” da Petrobras só durou até onde convinha às partes.
Numa clara sinalização de subordinação da Petrobras à Brasília (e não mais aos ditames do mercado), o secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do MME, Pietro Mendes, foi emplacado como presidente do conselho de administração da empresa. Com o “galo no galinheiro”, o ministro Alexandre Silveira arregaçou as mangas para agir como “chefe” da estatal.
Em junho, insatisfeito com a reinjeção de gás nos poços do pré-sal, Silveira acusou a petroleira de tratar o combustível com “desdém e negligência”. Prates, por sua vez, rebateu que a Petrobras “não sonega gás”. Mas o ministro não se deu por vencido. Num tom canhestro, falou ao Valor que “entre ficar com o sorriso do Jean Paul e ficar com o interesse do Brasil, ficaria com o interesse do Brasil”.
Após a declaração desajeitada do ministro, possivelmente para agradar o presidente Lula, Prates ironizou: “não adianta berrar pelo jornal, nem achar que um tá rindo demais e o outro tá fazendo careta“. Em seguida, num morde e assopra, tentou amenizar sua reação à provocação: “ele é ministro, tem que cobrar tudo“.
Autorizado por Prates a “cobrar tudo”, Silveira não se fez de rogado. Em entrevista à GloboNews na última sexta-feira (17), declarou que “já esperava uma manifestação da Petrobras, no sentido de reduzir preços, em especial do óleo diesel, que impacta diretamente na inflação”. Segundo ele, a companhia já poderia ter reduzido até R$ 0,42 no litro do diesel e até R$ 0,12 para a gasolina.
Novamente instado a defender o seu quintal, Prates se manifestou através do X (antigo Twitter) para orientar a conduta de Silveira. O executivo sugeriu ao ministro que siga a Lei 13.303/16 – sim, a Lei das Estatais, aquela que o atual governo já contorceu por diversas vezes -, e o Estatuto Social (art. 3º, parágrafo 4º e seguintes), da Petrobras, para baixar os preços.
De acordo com Prates, “a Petrobras fará ajustes quando e como tais parâmetros indicarem pertinência”, já que “não faz sentido agir por impulso ou açodamento”. Abre-se, portanto, mais um capítulo do cabo de força entre os interesses da União, da Petrobras e dos acionistas minoritários – veja mais em “A ‘sinuca de bico’ do (des)abastecimento“.
Ao dizer que está na hora de “puxar a orelha” da Petrobras, expressão utilizada na entrevista à GloboNews, Silveira repreende Prates do alto de uma posição hierárquica superior. Já o presidente da Petrobras teve o cuidado de “ensinar ao chefe” como ele deve agir. Mas quem é que manda, de fato, na Petrobras? Afinal, como diz o jargão popular, “cachorro com dois donos morre de fome”.